domingo, 13 de novembro de 2011

Sinto saudades dos lápis de cor que trazes nos olhos - Poema 2 - XVI Concurso APPADCM 2011 Setúbal




 Premiado com uma Menção Honrosa 


O destino passa por mim como uma pena caprichosa
Tão apressada, tão amarga que a cegueira
Tirar-me-á a lucidez de voltar a ser menino

O sono poeirento das pedras descobre-me os pés
E o ruído das estrelas permanece imutável
Ao longe umas mãos pequenas estendem-se
Abraçam-me como dois girassóis ciclópicos
Sinto-me tão pequeno dentro daquele olhar

As portas da igualdade fecham-se,
O espelho agride a nossa desmedida incoerência
Através da vaidade dos olhos que não usamos

Posso pedir-te que me abraces de novo?
Sinto saudades dos lápis de cor que trazes nos olhos


Carlos Val

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Olhar amendoado - Poema 3 - Concurso APPADCM 2011


O mundo simplifica-se num berlinde
Nas mãos do menino [diferente] é perfeito
Consegue atravessar-lhe o olhar amendoado
E criar na prega da mão um jardim de malmequeres

À noite sem saber compor contas de cabeça
Recolhe as estrelas uma a uma
Espalhando-as silenciosamente a seu lado
Como se escrevesse um poema nas arestas do tempo
Que se esgueira nos ponteiros de um arco-íris
Enquanto um asterismo tece o verbo e o alfabeto

Carlos Val

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O último epílogo de luz



As brumas e as nuvens da adolescência
Dissiparam-se sobre a cela solitária
Onde os meus olhos morrem todos os dias
Num silêncio de madeira em repouso

O teu rosto sorri-me numa parede frágil
De areia repetidamente, ancorado no vazio
Tempestuoso do mar pulsante do meu covil

Ama-me antes que o último epílogo de luz
Se dilua, aqui dentro o tempo não existe.


Carlos Val